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Entre os serviços e programas que coordena estão as
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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Criminosos procuravam algo na casa

Por Marco Carvalho - repórter

Foto: Adriano Abreu
A casa onde ocorreu o crime na segunda-feira, em Nova Parnamirim,
permanece fechada. Policiais voltaram à rua para colher informações
sobre o caso.

Um crime profissional. Os assassinatos com  marcas de tortura e crueldade praticados contra Tatiana Cristina Cruz de Oliveira e Olga Cruz de Oliveira Lima chamam atenção pela frieza e precisão do executor, ou executores. Informações de pessoas que estiveram na cena do crime reforçam a tese de que as mulheres mortas durante a segunda-feira passada em Nova Parnamirim passaram por momentos de terror proporcionados por especialistas. A residência de número 464, localizada na rua Antônio Lopes Chaves, ficou totalmente revirada, como se criminosos não cessassem à procura por algo que lhes interessava. A responsabilidade pela apuração das circunstâncias da ocorrência que intriga e choca a população e autoridades da segurança pública agora cabe à Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, de Parnamirim.

Em uma espécie de dispensa, área anexa à cozinha, a polícia se deparou com o primeiro corpo, logo que entrou na casa durante a manhã da terça-feira passada. Tratava-se de Olga Cruz. A mulher foi vítima de diversas facadas, que a atingiram em pontos espalhados pelo corpo. Em um dos três quartos da casa, estava Tatiana. Amarrada firmemente a uma cadeira, ela estava caída no chão. Um tecido amarrava suas mãos e uma corda, as pernas. Pelo corpo, ferimentos brutais, como o quase amputamento do dedo polegar, e outros visando proporcionar o sofrimento prolongado, como um corte superficial no pescoço.

Esse ferimento poderia proporcionar um sofrimento gradual. Os indícios encontrados na cena do crime levam a crer que os criminosos forçavam as vítimas a entregar algo de valor que estaria escondido. Um guarda-roupa foi retirado do lugar em um dos quartos em busca de objetos. As vítimas teriam sido levadas, após os ferimentos, a percorrer cômodo a cômodo da casa. Isso é justificado pela quantidade de sangue espalhado em vários pontos da residência.

Diversas questões ainda intrigam os investigadores, que retornaram à vizinhança durante a manhã de ontem para colher novas informações. Pistas provenientes de câmeras de segurança da rua e de ligações telefônicas, a polícia começa a traçar a cronologia dos assassinatos. Já se sabe que por volta das 14h da segunda-feira, Tatiana buscou a filha no colégio e retornou para casa, onde Olga já estava. Ainda não foi esclarecido se os criminosos já se encontravam na residência quando o resto da família chegou ao local, no início da tarde.

A polícia investiga a possibilidade de crime de latrocínio - quando se mata para roubar - e vingança, em face da violência constatada. O latrocínio seria caracterizado pelo roubo de uma televisão e de um carro modelo Ford Fiesta de cor vermelha - ainda não localizado. Na terça-feira passada, a delegada titular da Deam, Patrícia de Melo Gama, já havia se posicionado sobre as linhas de investigação: "Aparentemente foi um latrocínio, mas a crueldade dos assassinatos aponta para um crime de vingança. Ainda está cedo para falar alguma coisa de concreto, ainda vamos ouvir as testemunhas".

As mulheres moravam na casa há pouco mais de 10 anos. O imóvel foi adquirido pelo ex-companheiro de Tatiana, o contador português José Luís Vaz Marques Rosa e colocado no nome da filha do casal. O estrangeiro e Tatiana não possuíam mais relacionamento e ele destinava a pensão alimentícia regularmente à criança.

Ex-companheiro não acredita em assalto

Da sala da direção do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Macaíba, o contador português José Luís Vaz Marques Rosa, 43 anos, ouviu a informação. O diretor Elielson Dantas lhe informava às 11h de ontem que a ex-companheira do estrangeiro, Tatiana Cristina Cruz de Oliveira, e a mãe dela, Olga Cruz de Oliveira Lima, haviam sido barbaramente assassinadas na segunda-feira passada. Impassível, Luís ouviu os outros detalhes da realização do crime pelos repórteres. "Como foi que aconteceu? E a menina tá bem?", indagou. A menina é a filha de Tatiana com o português, uma criança de 10 anos de idade, que seria testemunha ocular dos assassinatos. O contador não manifestou emoção frente ao relato dos fatos e se pôs à disposição para qualquer esclarecimento. 

De camisa polo verde, calção azul e sandálias japonesas brancas com tiras cinzas, Luís passou pelo corredor do CDP de Macaíba em direção à sala da direção, com as mãos atrás do corpo. O homem está detido na unidade desde 5 de abril, quando foi transferido da carceragem da Polícia Federal em Natal. Havia sido preso em maio de 2011 por força de mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça portuguesa e cumprido pela PF no Brasil.  O motivo: aplicou golpes contra seus clientes, para quem prestava serviços como contador, e por vezes sonegou impostos. Responde por 39 crimes da mesma natureza fiscal.

José Luís conversou por 25 minutos com a reportagem da TRIBUNA DO NORTE e esclareceu como conheceu Tatiana e como funcionava o relacionamento deles atualmente. Também negou qualquer envolvimento com a autoria do crime, alegando que esteve "totalmente isolado do mundo". "Lá na PF fiquei 11 meses sozinho na cela. Só fazia ler e escrever. Aqui cheguei há um mês e nem recebi visita. Não tenho nada a ver com isso. Jamais faria uma coisa como essa", disse de forma apressada. A direção do CDP, depois que soube da ligação do homem com as vítimas, coordenou uma revista na cela em busca de aparelhos celulares, por exemplo, mas nada foi encontrado.

Pálido em virtude da reclusão, o contador permaneceu aparentemente insensível às descrições da cena do crime. Isso pode ser justificado pelo relacionamento já distante que mantinha com as vítimas e mesmo com a filha de 10 anos de idade. Ratificou que não havia atraso no pagamento da pensão alimentícia à filha, para quem destinava dois salários mínimos. Também detalhou como conheceu a ex-companheira. "Fui apresentado a ela por um amigo em comum, que é corretor de imóveis. Nosso relacionamento acabou por volta do ano de 2003. Desde lá, não temos tanta proximidade".

Ele relatou ainda que chegou a ter problemas com Olga, mas a convivência passou a ser normal depois. "Ela pensava que só porque era estrangeiro tinha dinheiro". Apesar da distância relatada pelo português, ele informou que Tatiana e Olga eram as duas únicas pessoas que o visitavam frequentemente na prisão. "Toda semana elas estavam lá prestando apoio. Era o único momento que eu conversava com  alguém. E mesmo assim em uma sala com dois agentes. Não era nada fácil", disse. 

Questionado sobre as possíveis motivações que teriam levado sua ex-companheira à morte, Luís Vaz não soube responder. "Eram pessoas [Tatiana e Olga] completamente normais, como quaisquer outras. Não faço a mínima ideia do que possa ter motivado esse crime", afirmou. O contador acrescentou que duvida muito de assalto, uma vez que "elas não eram pessoas com muitas posses".

O único momento que demonstrou alguma reação frente à crueldade, foi quando soube da agressão contra a filha. Com escoriações leves, a menina passa bem. "Gostaria de falar com ela, saber como vai ficar a partir de agora".

José Luís Vaz disse que aguarda um julgamento do Supremo Tribunal Federal que irá decidir sobre sua extradição para o seu país de origem. Enquanto não há novidades quanto à transferência, ele permanece preso.

Vizinhança permanece movimentada e assustada

É provável que os moradores das proximidades da rua Antônio Lopes Chaves, no bairro de Nova Parnamirim, nunca tenham assistido à tamanha movimentação. Um dia após o encontro dos corpos, os vizinhos ainda se reuniam pela calçadas das casas para comentar a brutalidade dos assassinatos praticados contra a pessoa que morava na residência de número 464. Além da tortura, as pessoas se intrigavam e construíam hipóteses que pudessem "solucionar" o caso. 

Uma vizinha da casa disse ter permanecido durante toda a tarde da segunda-feira dentro da sua residência e não escutou em nenhum momento gritos, que chamariam atenção para a violência dos assassinatos praticados ali próximo. O que incomodou foi o latido incessante de alguns dos 16 cachorros que existem na cena do crime, de propriedade das vítimas. 

A equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com as duas mulheres que encontraram a menina de 10 anos de idade vagando após deixar o imóvel, onde Tatiana e Olga estava mortas. Elas disseram ter achado estranho o comportamento e os ferimentos da garota, encaminhando-a a uma unidade hospitalar. "Ela disse que tinha caído do patinete. Tentamos contato com a mãe [Tatiana], mas a própria criança disse que ela chegaria mais tarde em casa. Fomos na casa e chamamos, mas ninguém respondeu", relatou a vizinha.

A criança passou a madrugada sob observação na unidade de emergência do Hospital Walfredo Gurgel, com ferimentos nos olhos, rosto e pescoço, além do registro de vômitos . Pela manhã, a vizinha que a havia encontrado sugeriu ir até a residência para que a garota pegasse roupas para se trocar. Nesse momento, depararam-se com sangue e os corpos, tendo rapidamente acionado a polícia. 

Dentre as hipóteses investigadas, está a de que pedreiros que trabalhavam na cena do crime tivessem alguma participação. Moradores próximos disseram conhecer os profissionais e não acreditar na possibilidade de participação deles. Mesmo assim, a polícia deve esclarecer a participação ou não dos trabalhadores na ocorrência.

Investigação 

Equipes da Delegacia Especializada de Homicídios (Dehom) estão prestando apoio aos agentes da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, em Parnamirim. A Deam está à frente do caso e apura as circunstâncias do ocorrido. Ontem, a delegada Patrícia de Melo Gama foi sucinta nas declarações. Disse estar analisando as imagens do circuito de interno de câmeras de segurança, para ver se haverá a possibilidade aproveitar algo. Ela esclareceu que ainda irá ouvir o ex-companheiro de Tatiana, que está detido no Centro de Detenção Provisório (CDP) de Macaíba. Questionada sobre detalhes da autópsia e da perícia da cena do crime, declarou não ter ainda recebido os documentos a serem elaborados pelo Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep).

Sepultamento

Vítimas de um crime brutal, Tatiana Cristina Cruz de Oliveira e Olga Cruz de Oliveira Lima foram sepultadas no final da manhã de ontem. Mãe e filha foram assassinadas com requintes de crueldade durante a segunda-feira passada e os seus corpos foram encontrados na terça-feira. O sepultamento ocorreu por volta das 10h da manhã de ontem no cemitério Parque da Passagem, em Extremoz. O inquérito que irá apurar as circunstâncias da ocorrência está sendo conduzido pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, em Parnamirim. Desde a madrugada de ontem, familiares e pessoas próximas se despediam das mulheres durante o velório, que ocorreu no bairro de Barro Vermelho. Nesta quarta-feira pela manhã, o cortejo seguiu para Extremoz para o sepultamento. O túmulo 315, da seção 2 e quadra 4 do cemitério, recebeu os caixões da mãe e da filha. Próximo ao local, coroa de flores foram deixadas. 


Publicado por Tribuna do Norte, em 10 de Maio de 2012.

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